Cobertura protetora estética em molares com HMI

Você sabe o que é HMI?

A hipomineralização de molares e incisivos (HMI) é uma condição que afeta a qualidade do esmalte dentário, resultando em opacidades que variam de branco cremoso a marrom amarelado, podendo levar a fraturas e dores severas. Estima-se que a HMI atinja cerca de 13,5% da população mundial, sendo um problema de saúde pública com desafios significativos para o diagnóstico e tratamento.

Recentemente, o artigo publicado por Claudia Maria de Souza Peruch e coautores na Journal of Case Reports and Images in Dentistry destacou uma abordagem promissora para o manejo de casos severos de HMI, especialmente em pacientes pediátricos.

Relato de caso de HMI

O artigo relata o caso de uma criança com HMI severa, que apresentava fraturas e hipersensibilidade nos primeiros molares permanentes. Com base na análise do caso, os autores implementaram uma solução inovadora: uma cobertura protetora estética feita de resina composta utilizando uma técnica semi-indireta. Essa abordagem demonstrou não apenas proteger os dentes afetados contra fraturas futuras, mas também manter a estética e o conforto funcional.

Caso de hipomineralização de molares inferirores

Opacidades demarcadas de cor creme na superfície vestibular do dente 16 (A) e brancas nas cúspides dos primeiros molares permanentes dos dentes 16 e 26 (B e D). Pequena fratura na cúspide mésio-vestibular do dente 26 (seta) (C).

Principais desdobramentos e conclusões obtidos durante o acompanhamento de nove meses:

1. Estabilidade da Cobertura Protetora

As coberturas protetoras estéticas, confeccionadas com resina composta e utilizando a técnica semi-indireta, apresentaram excelente desempenho ao longo do período de observação:

  • Adaptação marginal impecável: não foram observados sinais de deterioração nas margens das restaurações, indicando a eficácia do material e do processo de cimentação.
  • Resistência à mastigação: as coberturas suportaram a carga mastigatória sem apresentar fraturas ou desgastes significativos, mesmo em um ambiente oclusal em desenvolvimento.

2. Conforto e Funcionalidade

Durante os nove meses de acompanhamento, a paciente não relatou qualquer desconforto associado ao tratamento. Alguns pontos importantes incluem:

  • Ajustes oclusais precisos: realizados antes e após a cimentação, os ajustes garantiram que as restaurações não interferissem na oclusão, prevenindo dores na articulação temporomandibular (ATM) e evitando alterações significativas na mordida.
  • Integração ao desenvolvimento dentário: apesar da colocação das coberturas em dentes ainda em erupção, o tratamento não impactou negativamente o crescimento das estruturas dentárias nem a fisiologia da oclusão.

3. Satisfação Estética e Funcional

A decisão de optar pela cobertura protetora estética foi amplamente validada pelos resultados. Tanto os pais quanto a paciente demonstraram satisfação com o aspecto final do tratamento:

  • Aparência natural: a resina composta utilizada na confecção das coberturas foi cuidadosamente polida e ajustada, garantindo um resultado estético que atendeu às expectativas dos pais, cuja principal preocupação era manter uma aparência natural nos dentes da criança.
  • Impacto positivo na autoestima: a restauração estética contribuiu para a confiança da paciente ao sorrir e se alimentar, algo frequentemente comprometido em casos de HMI severa.

4. Preservação da Estrutura Dental

O uso de coberturas protetoras teve como objetivo central proteger a estrutura dental comprometida e minimizar riscos futuros. Os resultados mostraram que:

  • Prevenção de fraturas: as coberturas atuaram como uma barreira protetora contra forças mastigatórias e impactos, evitando o agravamento das fraturas já presentes no esmalte afetado.
  • Manutenção da integridade do esmalte: a técnica semi-indireta permitiu uma abordagem minimamente invasiva, preservando a estrutura dental saudável remanescente.

Coberturas protetoras dos dentes 16 e 26 após o polimento.

5. Benefícios do Acompanhamento Regular

O acompanhamento periódico foi crucial para monitorar a evolução do caso e realizar os ajustes necessários:

  • Revisões aos 6 e 9 meses: nessas consultas, foram avaliados o estado das coberturas, a adaptação marginal e a estabilidade oclusal. Nenhuma complicação ou necessidade de retratamento foi identificada.
  • Radiografias panorâmicas e bitewings: confirmaram a integridade das restaurações e a ausência de interferências no desenvolvimento radicular e na oclusão.

Oclusão do paciente após nove meses de controle das coberturas protetoras (A). Radiografias panorâmicas aos nove meses (B).

A tecnologia como aliada no tratamento da HMI

Uma das grandes inovações deste estudo foi o uso de imagens digitais para mapear e planejar o tratamento. O modelo digital permitiu aos profissionais analisar a espessura do material, ajustar contatos oclusais e garantir a adaptação perfeita da cobertura protetora. Essa metodologia não só aumentou a precisão do tratamento, como também reduziu o tempo na cadeira odontológica, um benefício crucial para crianças.

O Uso de Imagens Digitais no Tratamento de HMI

No estudo publicado por Claudia Maria de Souza Peruch, Dr. Mauricio Barriviera e Dr. Fernando Antunes Barriviera, as imagens digitais desempenharam um papel central no planejamento e execução do tratamento de um caso severo de hipomineralização de molares e incisivos (HMI). A tecnologia foi empregada para garantir maior precisão, conforto ao paciente e eficácia na abordagem terapêutica.

1.Mapeamento Digital do Arco Dentário

O primeiro passo foi realizar o mapeamento digital do arco superior e inferior do paciente. Utilizando tecnologia de escaneamento intraoral, os pesquisadores capturaram modelos tridimensionais altamente detalhados das estruturas dentárias. Esse método tem vantagens importantes:

  • Precisão superior: evita as distorções comuns em moldagens convencionais.
  • Conforto do paciente: especialmente relevante para crianças, o escaneamento digital elimina a necessidade de materiais de moldagem que podem causar desconforto.
  • Facilidade na análise: os modelos digitais permitem manipulações virtuais, como ampliações e recortes, para melhor visualização das áreas afetadas.

Mapeamento digital do arco superior (A), enceramento virtual dos pri-meiros molares permanentes (B) e espessura do enceramento virtual (1–1,5 mm) (C).

2.Planejamento Virtual com “Digital Wax-Up”

Após o mapeamento inicial, os modelos digitais foram processados em um software específico (NemoStudio). Nesse ambiente virtual, foi criado um “wax-up digital” – uma simulação da cobertura protetora estética que seria aplicada nos dentes afetados. O planejamento incluiu:

  • Cálculo preciso da espessura da cobertura protetora: variando entre 1 e 1,5 mm para garantir proteção e durabilidade.
  • Análise de retentividade e contatos oclusais: verificando como a cobertura interagia com os dentes adjacentes e antagonistas.
  • Simulação estética: permitindo visualizar o resultado final antes mesmo de iniciar o tratamento.

3. Impressão e Moldagem dos Modelos

Os dados do “wax-up digital” foram utilizados para imprimir modelos físicos em alta resolução. Esses modelos serviram como base para a produção das coberturas protetoras de resina composta, fabricadas no consultório utilizando uma técnica semi-indireta. Essa etapa teve as seguintes vantagens:

  • Agilidade: a impressão 3D foi rápida e possibilitou ajustes imediatos.
  • Redução de retrabalhos: a precisão do modelo digital minimizou erros na confecção da restauração.

Impressão do modelo digital inicial (A) e impressão do modelo após o enceramento virtual (B).

4.Benefícios Clínicos do Uso de Imagens Digitais

A incorporação de imagens digitais proporcionou múltiplos benefícios ao tratamento:

  • Maior controle sobre o design da cobertura protetora: a tecnologia permitiu ajustar espessuras e superfícies oclusais com exatidão.
  • Prevenção de erros clínicos: a visualização digital antecipou possíveis problemas de adaptação ou interferências na oclusão.
  • Menor tempo clínico: ao otimizar o planejamento, a etapa de cimentação no consultório foi rápida, com mínimo desconforto ao paciente.

O uso de imagens digitais no tratamento de HMI, como demonstrado neste estudo, é um exemplo claro de como a tecnologia pode revolucionar a odontologia, aumentando a precisão, a eficácia e a satisfação do paciente. Essa abordagem destaca a importância de integrar ferramentas digitais ao fluxo clínico, especialmente em casos complexos que exigem personalização e atenção aos detalhes.

A FENELON contribuiu com a documentação digital do caso, fornecendo imagens e suporte técnico para o planejamento virtual do tratamento.

Por que você deve ler este artigo?

Se você é um cirurgião-dentista interessado em novas abordagens para o tratamento de HMI ou busca integrar a tecnologia ao seu fluxo de trabalho clínico, este estudo é leitura obrigatória. Ele apresenta evidências práticas e discute os benefícios de tratamentos personalizados que consideram tanto a saúde quanto a estética dos pacientes.

Leia o artigo completo e inspire-se com essa solução que alia ciência, tecnologia e cuidado ao paciente.

Link do artigo: Aesthetic protective coverage on molars with MIH: Case report

Dr. Maurício Barriviera
Prof. Dr. Maurício Barriviera – CRO DF 4839
Doutor em Ciências da Saúde – Radiologia.
Diretor Técnico/Proprietário do Grupo Fenelon – Diagnósticos Odontológicos por Imagem.
Como revisor científico da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, tem se destacado como atuante no campo de pesquisas odontológicas.
Foi presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica e Diagnóstico por Imagem – ABRO – na gestão 2020/2023.