Como a tomografia computadorizada está revolucionando o planejamento da gengivoplastia 

Planejar uma gengivoplastia não é apenas uma questão de habilidade técnica: exige precisão diagnóstica, conhecimento anatômico e, cada vez mais, tecnologia de ponta. Um dos avanços que tem ganhado espaço na odontologia estética é o uso da tomografia computadorizada (TC) com afastamento de tecidos moles. Essa técnica, apesar de recente, está transformando a forma como os cirurgiões-dentistas abordam a cirurgia gengival, oferecendo um novo nível de previsibilidade e segurança. 

Em um trabalho de conclusão de curso realizado por André Vinícius Freitas da Boa Morte, Hugo Leonardo Batista Costa Lemos e orientado pela professora Maria Luiza dos Santos Stangherlin Tavares, foi feita uma revisão sistemática das evidências científicas que sustentam essa aplicação inovadora da TC. 

 O que a tomografia traz de novo para a gengivoplastia? 

Imagine poder enxergar, com clareza tridimensional, não apenas a estrutura óssea subjacente, mas também a espessura e o contorno exatos da gengiva do paciente antes de iniciar a cirurgia. É exatamente isso que a TC com afastamento de tecidos moles permite. 

Entre as vantagens destacadas no estudo: 

  • Visualização precisa da anatomia gengival e óssea. 
  • Avaliação detalhada do biotipo gengival. 
  • Planejamento cirúrgico personalizado. 
  • Redução dos riscos de complicações, como recessões gengivais. 
  • Comunicação mais eficiente com o paciente, que compreende melhor o que será feito. 

Conforme os autores apontam: “o uso da tomografia computadorizada com afastamento de tecidos moles representa um avanço significativo no planejamento da gengivoplastia, promovendo um tratamento mais seguro, eficaz e esteticamente satisfatório”. 

 Como funciona essa técnica? 

O segredo está no afastamento mecânico de lábios e bochechas durante a realização da tomografia, permitindo que a gengiva vestibular seja claramente visualizada. A TC de feixe cônico (TCFC), amplamente utilizada na implantodontia, se torna ainda mais poderosa quando combinada a essa simples, porém engenhosa adaptação. 

Segundo Januário, Barriviera e Duarte (2008), “a utilização de afastadores labiais durante a TCFC proporciona uma visualização mais detalhada e precisa das estruturas gengivais”, o que torna essa técnica uma aliada estratégica no diagnóstico e no planejamento cirúrgico. 

 E na prática clínica, como aplicar? 

Vamos imaginar um cenário comum: um paciente insatisfeito com o sorriso gengival, buscando uma solução estética. Antes da cirurgia, o profissional realiza a TC com afastamento dos tecidos moles. A imagem mostra exatamente onde o tecido gengival excede, qual a espessura óssea disponível e como remodelar o contorno gengival com segurança. 

Essa abordagem: 

  • evita cortes excessivos; 
  • minimiza exposição radicular; 
  • melhora a simetria do sorriso; 
  • reduz a necessidade de retoques cirúrgicos. 

Além disso, os dados obtidos auxiliam no planejamento de outras etapas, como enxertos, osteotomias ou implantes subsequentes. 

Mas… e os custos? 

Sim, é verdade que a tomografia computadorizada tem um custo mais elevado do que os métodos convencionais de imagem. No entanto, como os autores destacam, “seus benefícios em termos de segurança e eficácia justificam seu uso em casos complexos”. 

O investimento se traduz em menos imprevistos, melhores resultados e, sobretudo, maior satisfação do paciente — fator que impacta diretamente na reputação do profissional e no crescimento do consultório. 

 O que dizem os estudos? 

A revisão analisou artigos publicados entre 2000 e 2024, totalizando 60 estudos inicialmente, dos quais 16 foram selecionados por critérios de rigor metodológico e relevância clínica. 

Os principais achados incluem: 

  • forte correlação entre a espessura óssea e gengival (Cook et al., 2011); 
  • previsibilidade estética aumentada em cirurgias guiadas por TCFC (Miyamoto e Obama, 2011); 
  • vantagens do afastamento de tecidos moles para mensurações palatinas e vestibulares (Januário, Barriviera e Duarte, 2008). 

Por que isso importa para você, cirurgião-dentista? 

A resposta está na expectativa crescente dos pacientes por resultados naturais e duradouros. Gengivoplastias mal planejadas podem comprometer não apenas a estética, mas a saúde periodontal do paciente, levando a insatisfações e retratamentos. 

Adotar uma tecnologia que permite antecipar o resultado cirúrgico com tamanha precisão é um diferencial competitivo, especialmente em áreas como periodontia, implantodontia e odontologia estética. 

 Conclusão 

O uso da tomografia computadorizada com afastamento de tecidos moles para planejamento da gengivoplastia não é apenas uma tendência — é uma evolução natural da odontologia moderna, aliando ciência, tecnologia e excelência clínica. 

Se você deseja oferecer tratamentos com mais previsibilidade, segurança e resultados estéticos superiores, essa é uma técnica que merece ser incorporada à sua prática. 

Dr. Maurício Barriviera
Prof. Dr. Maurício Barriviera – CRO DF 4839
Doutor em Ciências da Saúde – Radiologia.
Diretor Técnico/Proprietário do Grupo Fenelon – Diagnósticos Odontológicos por Imagem.
Como revisor científico da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, tem se destacado como atuante no campo de pesquisas odontológicas.
Foi presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica e Diagnóstico por Imagem – ABRO – na gestão 2020/2023.