Detecção de lesão apical e do canal mandibular em radiografia e tomografia computadorizada

O tratamento endodôntico da periodontite apical — que visa eliminar a infecção da raiz, com posterior obturação — tem bom prognóstico, quando demonstrado pela boa resolução da radioluscência em radiografias panorâmicas e periapicais, feitas antes e durante o tratamento(4,5), as quais são usadas rotineiramente para diagnóstico, tratamento e monitoramento da progressão da doença e do processo de cura.

Entretanto, certos casos não podem ser diagnosticados e tratados por meio desse recurso de imagem, sendo a tomografia computadorizada a melhor opção, o que foi comprovado em um estudo, conforme mostramos a seguir.

Como foi o estudo comparativo da radiografia e tomografia computadorizada em lesões apicais?

Além de comparar o sucesso na detecção e tratamento da doença, o estudo também objetivava observar a relação com estruturas anatômicas vizinhas, como o canal mandibular.

Foram selecionados 50 pacientes com lesão apical persistente encaminhados para cirurgia endodôntica. Os dentes envolvidos eram 06 pré-molares inferiores e 44 molares inferiores. Além disso, 80 raízes foram avaliadas.

Todos os dentes já haviam sido tratados endodonticamente em outros momentos e com métodos diferentes. Os dentes exibiram uma raiz prejudicada por um tratamento de canal. O retratamento ou já tinha sido executado e falhou ou não era viável devido à obstrução do canal, ou ainda o paciente se recusou a sacrificar a restauração coronal para retratamento.

Para cada caso, foi realizada uma tomografia computadorizada, uma radiografia periapical e uma radiografia panorâmica, para avaliar a detecção da lesão apical e do canal mandibular. A presença da lesão foi correlacionada aos achados durante o procedimento cirúrgico. As tomografias das raízes envolvidas foram avaliadas em relação à espessura óssea e à diferenciação do tecido ósseo esponjoso e cortical. Além disso, a posição da raiz em relação à lesão foi estudada em todas as dimensões.

Resultados

 As 78 lesões diagnosticadas durante a cirurgia já eram visíveis com a tomografia computadorizada. Em contrapartida, apenas 61 das lesões foram notadas por radiografias convencionais.

  • O canal mandibular pode ser identificado em 31 casos em radiografias dentárias, enquanto nas tomografias todos foram identificados.
  • A quantidade de osso cortical e esponjoso, e a espessura do osso, bem como a extensão tridimensional da lesão e a posição da raiz dentro da mandíbula só puderam ser adequadamente observados em tomografias computadorizadas. Isso porque a seção transversal não pode ser visualizada em radiografias convencionais.

Conclusões

O uso de tomografia computadorizada fornece informações adicionais — como a visualização de estruturas anatômicas importantes, como canal mandibular e forame mentual — para o planejamento do tratamento de cirurgia apical de pré-molares e molares inferiores. Dessa forma, quando o canal mandibular não pode ser detectado em radiografias ou não está próximo à lesão, ou ápice radicular, a tomografia deve ser considerada antes da realização da cirurgia endodôntica.

Detalhamento das informações adicionais alcançadas com a TC 

Visualização de estruturas anatômicas importantes como:

  • canal mandibular;
  • forame mentual;
  • espessura óssea;
  • anatomia da raiz transversal;
  • posição exata do feixe neurovascular.

Quando deve-se usar a radiografia e a tomografia computadorizada no tratamento endodôntico? 

Radiografia

As radiografias panorâmicas e periapicais são usadas rotineiramente para diagnóstico, tratamento e monitoramento da progressão da doença e do processo de cura do tratamento endodôntico tradicional.

Tomografia

Já os dentes que não respondem ao tratamento convencional, dentes que requerem um

retratamento com intervenção cirúrgica, dentes com suspeitas de fraturas ou trincas radiculares, dentes com dúvidas anatômicas no exame convencional e dentes com sintomatologias que não possuem correlação clínica evidente, têm a indicação da orientação por imagem tridimensional, que é conseguida por meio de tomografia computadorizada de alta resolução. Dessa forma, a visualização da extensão da lesão apical será precisa, bem como sua relação com as raízes e as estruturas anatômicas vizinhas, como o feixe neurovascular mandibular.

Pelo que foi exposto, ficou claro que o tratamento endodôntico tradicional pode ser orientado por radiografias comuns. No entanto, em casos mais complexos, bem como em retratamentos, uma tomografia computadorizada é mais indicada para o sucesso do procedimento.