Espessura óssea e planejamento em implantodontia: dados revelam falhas críticas e urgência na mudança de conduta
Implantodontia moderna sob análise: entre avanços técnicos e lacunas clínicas
A implantodontia é um campo em constante evolução, impulsionado tanto por inovações tecnológicas quanto pela crescente demanda dos pacientes por soluções estéticas e funcionais duradouras. No entanto, nem sempre o avanço técnico tem sido acompanhado por um rigor clínico proporcional. Essa é a principal constatação do estudo conduzido por Geovana Pires da Silva e colaboradores, publicado no Brazilian Journal of Health Review.
O artigo analisou 70 tomografias computadorizadas de pacientes que receberam implantes dentários, com foco na avaliação da espessura óssea remanescente nas regiões vestibular e lingual/palatina. Através desse levantamento, os autores identificaram padrões preocupantes de negligência técnica e uso inadequado de métodos de imagem.
Conclusões principais do estudo
- Altíssimo índice de falhas nas margens ósseas de segurança
- Verificou-se que 88,8% dos implantes na região anterior e 95,5% na região posterior estavam fora dos limites mínimos recomendados pela literatura, que estipula entre 1 e 1,5 mm de espessura óssea nas faces vestibular e lingual/palatina.
- Esses números evidenciam uma falha crítica no planejamento cirúrgico, comprometendo a estabilidade do implante e elevando os riscos de reabsorção óssea, perda da osseointegração e até fraturas protéticas.
- Deficiência na técnica de imagem utilizada
- O estudo aponta que a tomografia computadorizada, que permite análise tridimensional precisa, não tem sido devidamente empregada pelos profissionais da área.
- Em muitos casos, continuam sendo utilizadas radiografias panorâmicas como método principal de avaliação, embora estas não ofereçam dados confiáveis sobre estruturas milimétricas essenciais ao sucesso do implante.
- Necessidade urgente de conscientização profissional
- Os autores ressaltam a importância de difundir dados científicos que alertem para a gravidade dessas falhas. A formação continuada, aliada à adoção de protocolos baseados em evidências, é fundamental.
- Planejar com base em imagens de alta precisão e respeitar as margens ósseas de segurança não é apenas uma recomendação técnica, mas um requisito ético frente ao paciente.
- Sugerem-se pesquisas futuras
- Os pesquisadores recomendam estudos longitudinais para compreender o impacto da espessura óssea inadequada na longevidade e funcionalidade dos implantes.
- Tais investigações podem subsidiar protocolos mais específicos e direcionar políticas de atualização profissional na área.
Da teoria à prática: por que isso importa no seu consultório?
A negligência na avaliação óssea e o uso de exames inadequados refletem diretamente nos resultados clínicos. Implantes mal planejados geram sobrecargas, perda óssea precoce, insatisfação estética e retratamentos complexos. Para evitar esse cenário, é indispensável:
- utilizar tomografia computadorizada como padrão de imagem para implantes, especialmente em casos que envolvem estética anterior ou proximidade com estruturas nobres.
- adotar planejamento cirúrgico-protético integrado, considerando o posicionamento tridimensional do implante, o tipo de prótese a ser utilizada e a biomecânica da mastigação.
- investir em guias cirúrgicos personalizados, que promovem previsibilidade e segurança na instalação do implante.
- atualizar-se constantemente com base na literatura científica, como os estudos de Scipioni et al. (1994) e Dos Santos (2019), que definem critérios mínimos de segurança para espessura óssea.
O estudo revela uma preocupante desconexão entre teoria e prática na implantodontia, sugerindo que muitos insucessos podem ser prevenidos com planejamento mais criterioso, uso adequado de tomografias computadorizadas e respeito às recomendações da literatura sobre espessura óssea.
A era da implantodontia moderna exige mais do que domínio técnico: requer comprometimento com a qualidade da informação, respeito ao tecido ósseo do paciente e uma prática clínica ancorada em evidências.
Brazilian Journal of Health Review
(DOI:10.34119/bjhrv6n3-261)