Fatores que influenciam a precisão no aumento estético da coroa clínica guiado por computador.

A tecnologia digital está revolucionando a odontologia estética, e um dos procedimentos que mais tem se beneficiado dessa evolução é o aumento estético da coroa clínica.

A possibilidade de planejar cirurgias com base em modelos virtuais e executá-las com guias 
impressos em 3D traz ganhos significativos em previsibilidade e segurança clínica. 
No entanto, mesmo com o auxílio da tecnologia, certos fatores biomecânicos e anatômicos continuam exercendo influência importante sobre o sucesso do procedimento — e é sobre isso que se debruça o estudo recente publicado pelos autores Lorenzo Tavelli, Basir A. Barmak, Ronald E. Jung, Maria-Elisa Galarraga Vinueza que avaliou de forma sistemática a influência de três variáveis: a espessura do tecido gengival, o tipo de lâmina utilizada 
e o desenho do guia cirúrgico. 
 
A importância da arquitetura gengival na estética do sorriso 
 
A harmonia entre dentes e gengiva é fundamental para um sorriso estético. Pacientes com erupção passiva alterada ou exposição excessiva da gengiva são candidatos ideais à cirurgia plástica periodontal. Neste contexto, a cirurgia guiada por computador surge como uma ferramenta valiosa para aumentar a previsibilidade e reduzir variações clínicas. Segundo os autores do estudo, “a espessura gengival, o design do molde cirúrgico e o tipo de lâmina podem afetar significativamente a precisão do procedimento cirúrgico”, o que reforça a necessidade de um planejamento minucioso e personalizado. 
 
O desenho do guia importa? 
 
Três tipos diferentes de guias cirúrgicos foram testados no estudo, que utilizou modelos anatômicos de maxila com tecidos moles de espessuras variadas (1,5 mm e 3,5 mm) para simular casos clínicos reais. Os resultados revelaram que guias com planos de suporte 
integrados apresentaram melhor desempenho em termos de precisão, tanto em gengivectomias quanto em osteotomias. Isso significa que, ao desenvolver um guia para aumento estético da coroa clínica, não basta apenas posicioná-lo de forma passiva — ele deve proporcionar estabilidade e orientação tridimensional real, 
especialmente em casos com maior espessura gengival. 
 
A lâmina também influencia na precisão 
 
Outro achado importante do estudo é que o tipo de lâmina cirúrgica utilizada pode alterar os resultados. Nos modelos com espessura normal de tecido mole, a mini lâmina mostrou desempenho superior em comparação à lâmina cirúrgica convencional, independentemente do tipo de guia empregado. 
 
Esse detalhe aparentemente simples pode fazer diferença na prática clínica, especialmente ao considerar que a mini lâmina proporciona um corte mais fino e preciso, minimizando a 
deformação do tecido durante o procedimento. 
 
Quando a espessura gengival se torna um desafio 
 
A espessura do tecido gengival é um fator frequentemente negligenciado no planejamento digital, mas os dados apresentados neste estudo demonstram que ela aumenta a discrepância média no resultado final da cirurgia guiada (p < 0,05). Isso é especialmente crítico porque tecidos mais espessos são menos responsivos a cortes precisos e podem introduzir variações na profundidade real alcançada durante a gengivectomia ou 
osteotomia. 
Na prática clínica, isso significa que pacientes com biotipo gengival espesso requerem atenção redobrada no design do guia e, possivelmente, a adoção de guias com planos de suporte adicionais. Sendo que a tomografia computadorizada é uma ferramenta muito importante na avaliação da espessura gengival! 
 
O valor da precisão em um procedimento estético 
 
Na Odontologia Estética, o milímetro importa. Pequenas discrepâncias podem comprometer toda a harmonia do sorriso. Por isso, procedimentos como o aumento estético da coroa clínica precisam de ferramentas que garantam previsibilidade. A tecnologia CAD/CAM aliada à impressão 3D de guias cirúrgicos representa um avanço inegável — mas seu uso exige critérios técnicos bem definidos. 


Como reforça o estudo, “a cirurgia periodontal pode ser planejada digitalmente usando um design de diagnóstico 3D e transferida perfeitamente para o campo cirúrgico por meio de um molde cirúrgico impresso em 3D”. O que este trabalho acrescenta é que o sucesso dessa transposição depende da personalização do guia conforme a espessura gengival e da escolha criteriosa do instrumental. 
 
Considerações clínicas para o cirurgião-dentista 
 
Sempre avalie a espessura gengival no planejamento do aumento estético da coroa clínica. Dê preferência para tomografia cone-beam devido a baixa dose de radiação e não ser um procedimento invasivo. 
Prefira guias com planos de suporte integrados em casos de tecidos espessos. 
Considere o uso de mini lâminas para obter cortes mais precisos. 
Evite aplicar soluções genéricas para diferentes biotipos gengivais. 
Atualize seu protocolo de planejamento digital para incluir essas variáveis. 
 
Uma nova perspectiva para a cirurgia periodontal digital 
 
Este estudo abre caminho para o refinamento das técnicas de cirurgia plástica periodontal guiada por computador. Ao levar em conta variáveis que antes passavam despercebidas, como a espessura gengival e o tipo de lâmina, o cirurgião-dentista ganha novos recursos para maximizar os resultados estéticos e funcionais. 


Se você já utiliza tecnologia digital em seus planejamentos, ou pretende adotá-la em breve, esta leitura é indispensável. 

Dr. Maurício Barriviera
Prof. Dr. Maurício Barriviera – CRO DF 4839
Doutor em Ciências da Saúde – Radiologia.
Diretor Técnico/Proprietário do Grupo Fenelon – Diagnósticos Odontológicos por Imagem.
Como revisor científico da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, tem se destacado como atuante no campo de pesquisas odontológicas.
Foi presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica e Diagnóstico por Imagem – ABRO – na gestão 2020/2023.