O impacto da radiografia odontológica em gestantes e a segurança fetal: o que os dentistas precisam saber.
A radiografia odontológica é uma ferramenta essencial para o diagnóstico e planejamento de tratamentos na odontologia. No entanto, quando se trata de pacientes gestantes, a preocupação com a exposição à radiação torna-se um fator importante na tomada de decisão clínica. O artigo “Impact of dental imaging on pregnant women and recommendations for fetal radiation safety: A systematic review” (Gamba et al., 2024) abordou essa temática com uma revisão sistemática sobre a segurança da radiografia odontológica em gestantes e suas implicações para o feto.
Radiografia odontológica e a gestante: quais os riscos reais?
A exposição à radiação ionizante durante a gravidez pode gerar preocupação entre dentistas e pacientes devido aos possíveis efeitos biológicos no feto. Os efeitos da radiação são divididos em:
- Efeitos determinísticos: ocorrem quando a exposição ultrapassa um limiar específico, resultando em danos celulares graves.
- Efeitos estocásticos: são aleatórios e não possuem um limiar estabelecido. Aumentam a probabilidade de alterações celulares que podem levar a doenças, como câncer.
A revisão sistemática revelou que os exames radiográficos odontológicos, quando realizados com protocolos adequados, apresentam doses de radiação extremamente baixas, inferiores aos limites estabelecidos pelas diretrizes internacionais para gestantes. Como afirmam Gamba et al. (2024): “a radiação absorvida pelo útero durante exames odontológicos de rotina é mínima e não representa risco significativo ao feto”.
Quais exames radiográficos são seguros para gestantes?
Os principais exames analisados no estudo foram:
- Radiografia intraoral: considerada segura, com doses insignificantes ao feto.
- Radiografia panorâmica: apresenta uma dose baixa de radiação, sem risco significativo para o feto.
- Tomografia computadorizada de feixe cônico (CBCT): possui maior dose de radiação quando comparada às radiografias convencionais, mas ainda dentro dos limites aceitáveis quando justificada clinicamente.
Uso de aventais de chumbo e colares tireoidianos: ainda é necessário?
O uso de aventais de chumbo e colares de proteção tireoidiana tem sido debatido na literatura. Algumas diretrizes indicam que sua utilização pode reduzir a exposição fetal, enquanto outras sugerem que sua influência é mínima ou desnecessária em radiografias odontológicas. O estudo revisado aponta que o uso de proteção pode ser benéfico.
Quantos exames podem ser feitos com segurança?
Com base nos dados revisados, a quantidade segura de exames durante a gestação depende do tipo de radiografia:
- Radiografia intraoral: até 164 exames por ano sem ultrapassar o limite anual de segurança.
- Radiografia panorâmica: entre 41 e 111 exames por ano.
- CBCT (campo pequeno): até 52 exames por ano.
- CBCT (campo grande): deve ser evitado ou realizado apenas quando extremamente necessário, pois pode ultrapassar o limite anual recomendado.
Princípio ALADAIP: minimizando riscos
A principal recomendação para o uso da radiografia odontológica em gestantes é seguir o princípio ALADAIP (As Low As Diagnostically Acceptable, being Indication-Oriented and Patient-Specific). Isso significa que:
- A radiografia deve ser realizada apenas quando clinicamente indicada.
- Devem ser utilizadas as menores doses possíveis para obtenção da imagem necessária.
- O exame deve ser individualizado para cada paciente e situação clínica.
Conclusão: é seguro realizar radiografias em gestantes?
A resposta é sim, desde que sejam respeitados os princípios de radioproteção e justificação clínica. As evidências indicam que a dose de radiação nas radiografias odontológicas é extremamente baixa e não representa risco significativo ao feto. Dessa forma, nenhum exame necessário deve ser adiado ou evitado apenas por causa da gravidez.
A odontologia baseada em evidências é essencial para garantir a segurança e confiança das pacientes gestantes. Profissionais bem informados podem tranquilizar suas pacientes e oferecer um atendimento seguro e de qualidade.
Perguntas Frequentes
- Radiografias odontológicas podem causar malformações no bebê?
Não. As doses de radiação utilizadas em exames odontológicos são muito baixas e não têm potencial para causar malformações fetais.
- É necessário adiar o tratamento odontológico até o fim da gestação?
Não. Procedimentos odontológicos, incluindo radiografias, podem ser realizados com segurança quando necessários para a saúde da mãe.
- Existe um período da gravidez em que a radiografia é mais segura?
O segundo trimestre é geralmente considerado o período mais seguro para procedimentos odontológicos eletivos, mas exames podem ser feitos a qualquer momento se clinicamente necessários.
4 . Quantas radiografias uma gestante pode fazer sem risco?
Depende do tipo de exame. Radiografias intraorais podem ser realizadas com segurança até 164 vezes ao ano sem ultrapassar os limites recomendados.
Para uma leitura mais aprofundada, confira o estudo completo: Gamba et al., 2024. DOI: 10.5624/isd.20230177.
Caso prefira baixe aqui o arquivo .pdf.