Radiografias convencionais Vs Tomografia de Feixe Cônico na periodontite apical: estudo comparativo

A periodontite apical é um problema que envolve inflamação e infecção na raiz de um dente, que ocorre após bactérias entrarem na cavidade dentária e, então, depois se espalham para os tecidos ao redor, levando a inchaço, dor e sensibilidade. Os pacientes podem sentir sensibilidade a temperaturas quentes ou frias, dor ao mastigar ou uma dor incômoda constante.

Em alguns casos, a infecção pode resultar na formação de um abscesso, cheio de pus, levando a inchaço localizado, protuberância semelhante a uma espinha na gengiva ou mesmo a saída de pus. Se não for tratada, a infecção pode atingir outros órgãos do corpo. O tratamento envolve terapia do canal, antibióticos e, algumas vezes, apicectomia (remoção do tecido infectado ao redor da raiz por uma pequena incisão na gengiva).

Por tudo isso, fica claro que quanto antes o problema for detectado, também menos invasivo será o tratamento, bem como melhores as chances de sucesso. Mas qual a melhor forma de detectar uma periodontite apical? Continue lendo…

Um estudo recente demonstrou que a Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (Cone Bean) apresenta alta precisão para detectar a periodontite apical (PA). Nesse sentido, a tomografia traz mais detalhes do que as radiografias periapicais e panorâmicas.

Esse fato sugere que o diagnóstico da periodontite apical com imagens de radiografia comum deve ser subestimada, ou seja, não confiável para fechar o diagnóstico em muitos dos casos. Neste texto, você confere resultados de estudos que demonstram a importância da Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico para diagnosticar com exatidão a periodontite apical.

Vantagens da tomografia sobre as radiografias

Os benefícios de diagnosticar a periodontite apical por tomografia incluem:

  • redução do tempo de varredura;
  • maior resolução nas imagens;
  • maior precisão diagnóstica;
  • menor dose de radiação.(17)

Estudo radiografias convencionais (panorâmica e periapical) Vs tomografia

Foram estudados registros de exames de imagem de 888 pacientes (59% mulheres com idade média de 12 +- 50 anos), incluindo radiografias periapicais, panorâmicas e tomografias, selecionadas a partir de bancos de dados do Instituto Odontológico e Radiológico de Brasília (IORB, Brasília).

A pesquisa comparou a radiografia periapical intraoral com imagens tridimensionais (3D) para o diagnóstico de patologia periapical em 36 pacientes (46 dentes). O tomógrafo utilizado foi o 3D Accuitomo XYZ Slice View Tomograph.

Após análise de todos os métodos, as imagens da TCFC foram clinicamente relevantes, incluindo informações adicionais que não foram encontradas nos filmes periapicais.

O resultado impressiona! Todas as 78 lesões diagnosticadas na cirurgia também eram visíveis na tomografia. Contrastando com apenas 61 das lesões que tinham sido observadas por radiografias convencionais.

(acima) A, B e C: Radiografia panorâmica e periapical

(acima) Tomografia de feixe cônico (cone bean)

(acima) Tomografia de feixe cônico (cone bean)

O canal mandibular, por exemplo, foi identificado apenas em 31 radiografias, enquanto as tomografias mostraram claramente o canal mandibular em todos os pacientes. Além disso, a quantidade e a espessura óssea, além da extensão tridimensional da lesão só foram adequadamente interpretadas na tomografia.

A análise ROC (Receiver operating characteristic) sugeriu que a periodontite apical só é corretamente identificada com radiografias convencionais quando está em estágio avançado. Já a tomografia provou ser um método de diagnóstico preciso para diagnóstico em estágios iniciais, conforme mostra a tabela a seguir.

Estudos epidemiológicos

Além dessa pesquisa, outros estudos epidemiológicos(26-28) em outras populações apontam valores discrepantes em 20% a 52% em periodontites apicais de dentes previamente tratados por endodontia, mas ainda apresentando lesões visíveis em radiografias periapicais convencionais. Essas diferenças foram atribuídas aos seguintes motivos:

  • diferentes níveis de prática odontológica final (especialista, clínico geral) e controle de infecção em diferentes populações;
  • qualidade do tratamento endodôntico avaliado por dentistas gerais ou endodontistas;
  • falta de padronização dos métodos de avaliação radiográfica;
  • falta de homogeneidade das populações comparadas;
  • uso de dentes ou indivíduos como referenciais.

Já no estudo atual, os casos de periodontite apical em dentes tratados endodonticamente, quando comparados os resultados da visão panorâmica, radiografias periapicais e imagens obtidas por tomografia foi de 17,6%, 35,3%, e 63,3%, respectivamente — como mostrado na tabela abaixo. Ou seja, uma grande diferença foi observada entre os tipos de imagem.

Acurácia na interpretação das imagens

Independentemente da escolha do tipo de radiografia, deve-se tomar cuidado para evitar a má interpretação. Em relação às imagens de tomografia de feixe cônico, a presença de pino metálico intracanal pode levar a interpretações equivocadas(17) dificultando as análises das imagens do Accuitomo. Nestes casos, as radiografias periapicais são úteis para complementar a diagnóstico.

Um fator positivo para a utilização da tomografia volumétrica é a produção de imagens de alta resolução, fornecendo aos dentistas uma visão espacial submilimétrica.

Assim, as imagens com resolução para fornecer alta qualidade diagnóstica com tempos de varredura relativamente curtos (10 a 70 segundos) e uma dose de radiação equivalente à necessária para 4 a 15 radiografias panorâmicas(29).

Vale mencionar, no entanto, que a qualidade da imagem pode variar segundo o tipo de aparelho de tomografia. Assim, as características do equipamento utilizado neste estudo (3D Accuitomo) foram os seguintes:

  • espaço periodontal: 1,6 mm 1,2 mm;
  • sensor tipo II;
  • tamanho do voxel: 0,125 mm;
  • campo de visão: 4,3 cm;
  • tempo de varredura: 17 segundos;
  • sem raio-x pulsado.

Por tudo o que foi apresentado, fica claro que o uso de imagens radiográficas convencionais para detecção de periodontite apical deve ser feito com cuidado devido à alta possibilidade de diagnóstico falso-negativo. Outro diferencial do tomógrafo de feixe cônico, é ser uma técnica não invasiva e de precisão elevada.

Conclusão do estudo

Nas condições testadas, o diagnóstico de prevalência de periodontite apical em dentes já tratados anteriormente foi muito maior com a tomografia, em comparação com as radiografias periapical e panorâmica.

No final do estudo, a periodontite apical foi identificada corretamente em 54,5% dos casos com radiografias periapicais e em somente 27,8% dos casos com radiografias panorâmicas. Pequenas alterações na sensibilidade foram encontradas para os diferentes grupos de dentes, exceto com relação aos dentes incisivos em radiografias panorâmicas.

Com isso, fica evidente a grande importância da utilização da tomografia computadorizada de feixe cônico para diagnosticar lesões apicais e, assim, poder tratá-las o quanto antes para que não haja maior comprometimento do dente e afetado e, o que seria pior, comprometimento de órgãos e tecidos do corpo, como a periocardite, por exemplo.

Referência

JOE — Volume 34, Number 3, March 2008
Accuracy of Cone Beam Computed Tomography and Panoramic and Periapical Radiography for Detection of Apical Periodontitis
Carlos Estrela, DDS, MSc, PhD, Mike Reis Bueno, DDS, MSc, Cláudio Rodrigues Leles, DDS, MSc, PhD, Bruno Azevedo, DDS, MSc, and José  Ribamar Azevedo, DDS.

Dr. Maurício Barriviera
Prof. Dr. Maurício Barriviera – CRO DF 4839
Doutor em Ciências da Saúde – Radiologia.
Diretor Técnico/Proprietário do Grupo Fenelon – Diagnósticos Odontológicos por Imagem.
Como revisor científico da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, tem se destacado como atuante no campo de pesquisas odontológicas.
Foi presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica e Diagnóstico por Imagem – ABRO – na gestão 2020/2023.