Tomografia Cone Beam na análise de defeitos ósseos em implantes
A avaliação dos tecidos ósseos peri-implantares é fundamental para o monitoramento da longevidade dos implantes dentários. A identificação precoce de defeitos ósseos ao redor do implante permite intervenções terapêuticas mais conservadoras e melhora o prognóstico do tratamento restaurador.
Entre os métodos de imagem empregados para essa finalidade, a tomografia computadorizada de feixe cônico (Cone Beam) tem ganhado destaque pela sua acurácia tridimensional e baixa dose de radiação comparada à tomografia convencional.
Neste conteúdo, apresentamos os principais achados de uma revisão integrativa publicada em 2023 na revista Oral Radiology [1], que analisou a eficácia da Tomografia Cone Beam na detecção e medição de defeitos ósseos peri-implantares, comparando-a com técnicas convencionais de radiografia intraoral.
Análise dos defeitos ósseos peri-implantares por meio da tomografia Cone Beam
A revisão integrativa teve como objetivo sistematizar a literatura científica sobre a capacidade diagnóstica da Cone Beam na inspeção de defeitos ósseos peri-implantares. Foram incluídos estudos clínicos e laboratoriais publicados entre 2013 e 2022, com foco em comparações entre tomografia e radiografia intraoral.
Foram selecionados 19 estudos que preencheram os critérios de elegibilidade. Esses estudos avaliaram diferentes tipos de defeitos peri-implantares, incluindo fenestrações, deiscências, crateras e defeitos em parede. A acurácia, a sensibilidade e a especificidade diagnósticas foram analisadas, bem como a discrepância entre a medição real do defeito e os valores obtidos por cada método de imagem.
Desempenho da tomografia Cone Beam
A análise comparativa mostrou que a tomografia Cone Beam apresentou desempenho superior à radiografia intraoral na detecção de todos os tipos de defeitos ósseos peri-implantares, com exceção dos defeitos localizados na região interproximal.
Nos estudos laboratoriais, a Cone Beam demonstrou sensibilidade variando de 73% a 100%, enquanto a radiografia convencional apresentou sensibilidade entre 35% e 85%. A especificidade também se mostrou elevada, variando entre 85% e 100%.
Essa diferença de desempenho foi particularmente marcante na detecção de deiscências vestibulares e fenestrações, cuja visualização bidimensional é limitada pela sobreposição de estruturas. Por sua natureza tridimensional, a tomografia permite visualizar as paredes ósseas ao redor do implante com maior precisão espacial, sem superposições.
Precisão na medição dos defeitos peri-implantares
Um dos aspectos relevantes analisados na revisão foi a precisão das medições obtidas com a tomografia Cone Beam em relação ao tamanho real dos defeitos ósseos. A maioria dos estudos apontou para uma discrepância média inferior a 1 mm entre as medidas obtidas por tomografia e a dimensão real do defeito.
A acurácia foi consistente tanto em ambientes laboratoriais quanto em estudos clínicos, com destaque para os casos de defeitos em cratera, que apresentaram os menores desvios. Essa precisão é fundamental para o planejamento de procedimentos de regeneração óssea guiada e para a definição do prognóstico do implante.
A radiografia intraoral, por outro lado, demonstrou uma tendência significativa de subestimação da profundidade e da extensão dos defeitos, especialmente em implantes localizados em regiões posteriores e com comprometimento vestibular.
Limitações na região interproximal
Apesar do desempenho superior geral da tomografia, a revisão apontou que, na região interproximal, a radiografia intraoral ainda pode oferecer resultados comparáveis, especialmente quando realizada com técnica correta de paralelismo e filmes digitais de alta resolução.
A proximidade entre as paredes ósseas mesiais e distais e o corpo do implante pode gerar artefatos na imagem tomográfica, comprometendo a interpretação nessa região específica. No entanto, mesmo nesses casos, a Cone Beam fornece uma visualização tridimensional mais abrangente, o que pode ser relevante na presença de sinais clínicos ou alterações peri-implantares suspeitas.
Implicações clínicas e recomendações
A aplicação da tomografia computadorizada de feixe cônico no acompanhamento de implantes deve ser considerada em casos de suspeita de perda óssea peri-implantar, especialmente quando os sinais clínicos forem inespecíficos ou os achados radiográficos forem inconclusivos.
A possibilidade de identificar defeitos ósseos vestibulares precocemente e com precisão pode impactar diretamente na escolha terapêutica, indicando desde medidas profiláticas até a necessidade de cirurgia regenerativa. Além disso, a detecção precoce de fenestrações ou deiscências contribui para evitar falhas do implante e complicações peri-implantares de maior gravidade.
O uso da tomografia deve, no entanto, respeitar os princípios da justificação e otimização da dose de radiação, conforme recomendado por diretrizes internacionais. A indicação deve ser baseada em critérios clínicos claros e com avaliação criteriosa dos riscos e benefícios.
Portanto, estes dados confirmam que a tomografia Cone Beam é mais eficaz que a radiografia intraoral para a detecção da maioria dos defeitos ósseos peri-implantares. Sua superioridade diagnóstica, aliada à capacidade de medição precisa das alterações ósseas, justifica sua utilização em situações de maior complexidade clínica.
Na prática da implantodontia, a escolha do método de imagem deve considerar tanto os limites anatômicos da região quanto os objetivos do planejamento terapêutico. A Tomografia Cone Beam se consolida como ferramenta diagnóstica indispensável para o acompanhamento de casos com risco de peri-implantite e para a avaliação de falhas em tecidos peri-implantares.
Na Fenelon Diagnósticos Odontológicos por Imagem os exames de tomografia Cone Beam são realizados com protocolos personalizados para a avaliação de implantes, dando suporte para o planejamento e monitoramento de casos em implantodontia.
Quer saber mais sobre aplicações clínicas da tomografia Cone Beam? Acesse nosso blog e confira a comparação entre as radiografias convencionais e a tomografia de feixe cônico na periodontite apical. Boa leitura!
Referência:
[1] Costa JA, Mendes JM, Salazar F, Pacheco JJ, Rompante P, Câmara MI. Analysis of peri-implant bone defects by using cone beam computed tomography (CBCT): an integrative review. Oral Radiol. 2023 Jul;39(3):455-466. doi: 10.1007/s11282-023-00683-w