Disfunção da ATM: tomografia Cone Beam na detecção de pneumatização da eminência articula

A pneumatização da eminência articular (PEA) corresponde à presença de células aéreas localizadas no processo zigomático do osso temporal e sua expansão pode resultar em pneumatização da fossa glenoide ou da eminência articular. Ambas as variantes são assintomáticas, mas apresentam relevância clínica por modificarem a estrutura óssea local e influenciarem diretamente a conduta cirúrgica, especialmente em abordagens da disfunção da articulação temporomandibular (disfunção da ATM).


Variantes anatômicas como a PEA têm sido cada vez mais reconhecidas como fatores que podem interferir na execução segura e eficaz desse tipo de procedimento. Apesar de assintomáticas, essas cavidades pneumatizadas impõem desafios significativos ao cirurgião-dentista durante intervenções na região da ATM, podendo comprometer o acesso, a estabilidade óssea e o controle de riscos perioperatórios.


A evolução das tecnologias de imagem, sobretudo com a disseminação da tomografia computadorizada de feixe cônico (ou tomografia Cone Beam), permitiu avanços significativos na detecção dessas alterações. A visualização tridimensional da região da ATM proporciona um nível de detalhamento incompatível com os exames bidimensionais, como a radiografia panorâmica tradicional. Com isso, torna-se possível identificar com maior precisão estruturas anatômicas com potencial impacto sobre o planejamento cirúrgico. 

O papel da PEA na cirurgia da disfunção da ATM

A presença de células aéreas na eminência articular pode reduzir a resistência óssea local, elevando o risco de perfurações durante o acesso cirúrgico. Também há risco aumentado de vazamento de líquido cefalorraquidiano, fraturas, e dificuldades no uso de osteótomos e brocas, além de facilitar a disseminação de infecções e tumores para tecidos adjacentes.

Complicações como anquilose da ATM secundária a processos infecciosos podem estar associadas à disseminação de patologias por estruturas pneumatizadas. Além disso, casos de osteomielite, fístulas e alterações na dinâmica articular podem ser agravados quando a anatomia está alterada por pneumatizações extensas. Por isso, o conhecimento dessas variantes anatômicas é essencial para a prevenção de resultados adversos.

Estudo comparativo: radiografia panorâmica vs. tomografia Cone
Beam

Um recente estudo comparou o desempenho da radiografia panorâmica e da tomografia Cone Beam na detecção da PEA [2]. Foram analisadas imagens de 400 pacientes que realizaram ambos os exames no mesmo ano. A análise considerou como padrão ouro a Cone Beam, que permitiu a visualização detalhada das estruturas anatômicas nos planos axial, coronal e sagital.

A prevalência da PEA detectada pela tomografia Cone Beam foi de 17,3%, enquanto a radiografia panorâmica identificou apenas 9,8% dos casos. A especificidade da radiografia foi elevada (99,5% para o lado direito e 98% para o lado esquerdo), indicando que raramente houve falsos positivos.

Os dados também sugerem que a experiência do avaliador e a qualidade do equipamento podem afetar a capacidade diagnóstica da radiografia panorâmica, enquanto a tomografia Cone Beam fornece imagens mais padronizadas, menos influenciadas por fatores técnicos. Além disso, o estudo demonstrou boa concordância intra e interobservadores para a avaliação tomográfica, reforçando aconfiabilidade da Cone Beam.

A tomografia Cone Beam como exame de escolha

A disfunção da ATM envolve uma ampla variedade de condições estruturais e funcionais, que vão desde deslocamentos discais até anquilose e alterações degenerativas. Em todas essas situações, a documentação por imagem têm papel decisivo no planejamento terapêutico.

Entre as vantagens da tomografia Cone Beam estão:

  • alta resolução espacial para avaliação óssea;
  • menor dose de radiação em relação à tomografia convencional;
    possibilidade de reconstruções multiplanares;
  • custo mais acessível que a tomografia médica;
  • melhor relação custo-benefício na rotina clínica.

A Cone Beam também permite diferenciar com mais segurança as cavidades
pneumatizadas de outras lesões radiolucentes, como cistos ósseos traumáticos,
displasias fibrosas, granulomas centrais de células gigantes e hemangiomas
intraósseos.

Aplicabilidade clínica e recomendação

A ausência de sintomas não deve ser critério exclusivo para descartar a investigação de PEA em pacientes com disfunção da ATM. A avaliação tridimensional deve ser considerada sempre que houver indicação cirúrgica ou planejamento de intervenções que envolvam a eminência articular ou estruturas adjacentes.

O estudo discutido também demonstrou alta reprodutibilidade dos resultados por diferentes observadores experientes, o que reforça a confiabilidade da tomografia Cone Beam como método padrão. A uniformidade dos achados entre os avaliadores mostra que o exame é robusto e tecnicamente reprodutível, mesmo em casos com alterações anatômicas sutis.

Dentistas com foco em cirurgia bucomaxilofacial, implantodontia ou tratamento de disfunções da ATM devem manter alto grau de suspeição frente a variabilidades anatômicas, mesmo em exames aparentemente normais. O planejamento personalizado deve incluir a interpretação minuciosa da topografia óssea com imagens 3D, favorecendo abordagens minimamente invasivas e de maior previsibilidade.

A detecção de pneumatização da eminência articular deve ser considerada em todos os casos com indicação de cirurgia da articulação temporomandibular. O estudo analisado demonstra que a tomografia Cone Beam é superior à radiografia panorâmica nesse aspecto, por apresentar maior sensibilidade sem prejuízo da especificidade.

Na Fenelon Diagnósticos Odontológicos por Imagem, o exame de tomografia Cone Beam é realizado com foco na aplicação clínica dos achados e na integração de acordo com o planejamento indicado exclusivamente pelo cirurgião-dentista
solicitante.

Para continuar se aprofundar acerca das aplicações da tomografia Cone Beam,
sugerimos a leitura do artigo sobre a utilização de imagens tridimensionais (3D) na
no diagnóstico da doença Periodontal. Boa leitura!

Referências:
[1] Miloglu O, Yilmaz AB, Yildirim E, Akgul HM. Pneumatization of the articular eminence on cone beam computed tomography: prevalence, characteristics and a review of the literature. Dentomaxillofac Radiol. 2011 Feb;40(2):110-4.  doi: 10.1259/dmfr/75842018

[2] Katı E, Akçiçek G, Zengin HY. Comparison of cone beam computed tomography and panoramic imaging for the detection of pneumatization of the articular eminence. Int J Oral Maxillofac Surg. 2025

May 22:S0901-5027(25)01284-6. doi: 10.1016/j.ijom.2025.04.114

Dr. Maurício Barriviera
Prof. Dr. Maurício Barriviera – CRO DF 4839
Doutor em Ciências da Saúde – Radiologia.
Diretor Técnico/Proprietário do Grupo Fenelon – Diagnósticos Odontológicos por Imagem.
Como revisor científico da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, tem se destacado como atuante no campo de pesquisas odontológicas.
Foi presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica e Diagnóstico por Imagem – ABRO – na gestão 2020/2023.