Tomografia Cone Beam vs radiografia na microcirurgia endodôntica
A microcirurgia endodôntica é uma intervenção altamente precisa e indicada em casos de falha do tratamento endodôntico convencional. Com o avanço das técnicas de imagem, o planejamento pré-operatório e a avaliação dos resultados pós-operatórios ganharam novas perspectivas, sobretudo com o uso da Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico, também conhecida como Tomografia Cone Beam (TC Cone Beam).
Essa modalidade de imagem oferece uma visão tridimensional detalhada, superando as limitações da radiografia bidimensional tradicional. Além disso, esse tipo de evolução diagnóstica vem sendo progressivamente incorporada à prática clínica como suporte fundamental nas decisões terapêuticas.
Nesse âmbito, um estudo prospectivo publicado no International Endodontic Journal em 2023 comparou, pela primeira vez, os desfechos clínicos e centrados no paciente entre duas abordagens de imagem: radiografia periapical versus TC Cone Beam, no contexto da microcirurgia endodôntica.
Avaliação do resultado da microcirurgia endodôntica usando radiografia periapical versus TC Cone Beam
O estudo teve como objetivo principal investigar se a utilização de imagens tomográficas no planejamento cirúrgico endodôntico teria impacto positivo sobre o resultado clínico da microcirurgia, tanto em termos de sucesso radiográfico da cicatrização quanto na experiência do paciente no pós-operatório. Foram avaliados 60 pacientes, divididos em dois grupos: um planejado com base em radiografias periapicais e outro com imagens de tomografia Cone Beam. Os critérios de inclusão foram rigorosos, garantindo homogeneidade entre os grupos quanto ao tipo de lesão periapical, idade e histórico de tratamento endodôntico.
Todos os procedimentos foram realizados por um mesmo operador experiente, seguindo um protocolo cirúrgico padronizado, o que minimizou variações técnicas. O acompanhamento clínico e radiográfico foi feito por 12 meses, com avaliações em múltiplos momentos do pós-operatório. Além dos exames de imagem, foram conduzidas entrevistas estruturadas com os pacientes para avaliação de dor, inchaço, função mastigatória, capacidade de fala, alimentação, retorno às atividades cotidianas e percepção geral de bem-estar.
Resultados centrados no paciente: menos inchaço e melhor qualidade de vida
Os resultados demonstraram que os pacientes do grupo Cone Beam relataram substancialmente menos inchaço na fase pós-operatória precoce (1 a 3 dias), além de menor limitação funcional nas atividades orais. Relatos frequentes incluíram maior facilidade para se alimentar, ausência de alterações significativas na fala e menor impacto na rotina social e profissional. A percepção subjetiva de recuperação foi significativamente melhor no grupo Cone Beam, conforme apontaram os escores de avaliação de qualidade de vida.
Essa diferença clínica foi atribuída à maior previsibilidade do procedimento cirúrgico proporcionada pelas imagens tomográficas. A TC Cone Beam forneceu detalhes anatômicos tridimensionais importantes, como a extensão da lesão periapical, relação com estruturas vitais (como canal mandibular e seio maxilar) e trajetos ósseos ideais para acesso, o que permitiu uma abordagem cirúrgica menos invasiva, com menor remoção óssea e mais economia tecidual.
Além disso, o tempo cirúrgico médio foi significativamente menor no grupo Cone Beam, cerca de 30% inferior ao grupo com planejamento radiográfico convencional. Esse fator também contribui diretamente para a menor resposta inflamatória local, menor sangramento e maior conforto no pós-operatório imediato. Pacientes relataram menor necessidade de analgésicos e retorno mais rápido às atividades habituais, com impacto positivo na adesão ao tratamento e na percepção geral de cuidado.
Avaliação da cicatrização e desfecho radiográfico
Do ponto de vista radiográfico, ambos os grupos apresentaram taxas semelhantes de sucesso apical ao final de 12 meses, com mais de 90% das lesões mostrando sinais de cicatrização adequada. No entanto, a avaliação da cicatrização pelo grupo Cone Beam foi considerada mais precisa, uma vez que a imagem tridimensional permite melhor diferenciação entre tecidos ósseos mineralizados, fibrosos e cavidades residuais, algo limitado nas radiografias bidimensionais.
A TC Cone Beam permitiu, por exemplo, identificar áreas de neoformação óssea parcial que poderiam ser subestimadas em imagens planas. Essa acurácia se mostrou particularmente útil para decisões clínicas de seguimento e alta, evitando tanto intervenções desnecessárias quanto omissão de complicações sutis. Outro benefício observado foi a detecção precoce de falhas, como persistência de lacunas ósseas ou reabsorções atípicas, que poderiam passar despercebidas na radiografia periapical.
A maior resolução e detalhamento anatômico da TC Cone Beam também se mostraram vantajosos para o seguimento pós-operatório, especialmente em situações com estruturas sobrepostas, densidade óssea heterogênea ou anatomias atípicas. A capacidade de reconstrução em múltiplos planos e a visualização volumétrica tornam a Cone Beam um recurso de maior valor para monitoramento clínico de longo prazo.
Implicações clínicas para a endodontia
O estudo reforça que a escolha da modalidade de imagem no planejamento da microcirurgia endodôntica pode impactar diretamente a experiência do paciente, a eficiência operatória e os desfechos clínicos. Embora a radiografia periapical continue sendo uma opção válida e de baixo custo, suas limitações são evidentes em cenários mais complexos. A TC Cone Beam se apresenta como uma ferramenta diagnóstica e terapêutica mais abrangente.
A possibilidade de identificar complexidades anatômicas invisíveis ao exame bidimensional torna a tomografia especialmente relevante em casos de retratamento, lesões extensas, proximidade com raízes de dentes adjacentes ou presença de canais acessórios. Na prática clínica, isso se traduz em maior segurança cirúrgica, planejamento mais assertivo, menor tempo operatório e melhor experiência para o paciente. A adoção da TC Cone Beam em protocolos de microcirurgia endodôntica pode representar um avanço importante na odontologia baseada em evidências.
Adicionalmente, a valorização de parâmetros centrados no paciente representa uma tendência crescente na literatura. O conforto, a qualidade de vida e a percepção de cuidado são fatores cada vez mais considerados nos estudos clínicos e devem influenciar decisões de conduta e escolha de recursos tecnológicos. A imagem 3D, nesse sentido, vai além do diagnóstico e passa a compor uma estratégia de atendimento mais humana e eficiente.
A Tomografia Cone Beam demonstrou ser superior à radiografia periapical na avaliação pré-operatória de microcirurgias endodônticas sob diversos aspectos, especialmente no que diz respeito ao conforto e à qualidade de vida do paciente após o procedimento. Embora os desfechos radiográficos finais tenham sido semelhantes entre os dois grupos, a experiência do paciente, a eficiência operatória e a precisão diagnóstica favorecem a adoção da Cone Beam na rotina endodôntica moderna.
A Fenelon Diagnósticos Odontológicos por Imagem dispõe da tecnologia TC Cone Beam para apoiar decisões clínicas mais assertivas e embasadas. Com uma equipe especializada, estamos preparados para atender casos de diferentes complexidades com foco em precisão diagnóstica, conforme a indicação exclusiva do cirurgião-dentista, conforme avaliação clínica individualizada.
Quer aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre o uso da tomografia na prática clínica? Leia também nosso conteúdo sobre a comparação entre a tomografia Cone Beam e a radiografia periapical na detecção de fraturas radiculares verticais.
Dr. Maurício Barriviera CRO DF 4839 | Dr. Frederico Fenelon Guimarães CRO DF 4930
Referência:
[1] Gurusamy K, Duhan J, Tewari S, Sangwan P, Gupta A, Mittal S, Kumar V, Arora M. Patient-centric outcome assessment of endodontic microsurgery using periapical radiography versus cone beam computed tomography: A randomized clinical trial. Int Endod J. 2023 Jan;56(1):3-16. doi: 10.1111/iej.13837