Entenda por que a tomografia computadorizada pode ser seu maior aliado no planejamento cirúrgico de dentes inclusos

Você já parou para pensar em quantas decisões cirúrgicas na odontologia dependem de imagens claras, precisas e confiáveis? Quando se trata de dentes inclusos, especialmente terceiros molares e caninos, a margem para erro é mínima. E é aí que entra a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC), que vem transformando o cenário da cirurgia oral. 

O que sabemos sobre dentes inclusos? 

Dentes inclusos são aqueles que, por algum motivo, não conseguiram irromper na arcada dentária dentro do tempo esperado. Pode ser por falta de espaço, orientação inadequada ou obstáculos anatômicos. Quando não tratados, esses dentes podem causar uma série de complicações: desde reabsorções radiculares e pericoronarites até a formação de cistos e fraturas mandibulares. 

A situação se complica quando tentamos localizar esses dentes com exatidão usando radiografias convencionais. A sobreposição de estruturas e as distorções da imagem dificultam a interpretação e podem comprometer o plano cirúrgico. 

 A revolução da imagem em 3D: por que a TCFC é tão eficaz? 

Segundo Lima et al. (2021), “a tomografia computadorizada de feixe cônico é uma boa indicação na cirurgia de dentes inclusos quando se quer obter uma localização precisa do elemento dental dentro da estrutura óssea e sua relação com as estruturas adjacentes”. 

Isso se traduz em maior segurança, previsibilidade e, claro, um planejamento muito mais preciso. Em outras palavras: menos surpresas durante o procedimento e mais conforto para o paciente. 

Vamos a alguns exemplos práticos: 

  • Caninos inclusos: a TCFC permite identificar a posição vestibulo-palatina, a proximidade com raízes de incisivos e a relação com a cortical óssea — informações críticas para uma abordagem ortocirúrgica precisa. 
  • Terceiros molares inferiores: a relação íntima com o canal do nervo alveolar inferior pode ser diagnosticada com clareza. Isso ajuda a evitar lesões neurossensoriais, como mostrou o estudo de Umar et al., em que nenhum paciente apresentou parestesia permanente após cirurgias bem planejadas com base na TCFC. 

Casos que mostram o impacto da TCFC 

  • Kamio et al. descreveram o uso de modelos 3D impressos a partir da TCFC para planejar um autotransplante de terceiro molar. Resultado? Sucesso total e recuperação funcional sem intercorrências. 
  • Jeremias et al. relataram como a TCFC foi essencial para localizar e remover dentes supranumerários anteriores sem danos aos tecidos vizinhos. 
  • Guerrero et al. mostraram que, embora a TCFC não tenha sido superior à panorâmica na predição de parestesias, foi significativamente mais eficaz para prever a exposição do feixe vasculonervoso durante a cirurgia. 

 Quando vale a pena indicar uma TCFC? 

A decisão deve ser ponderada com base em critérios clínicos e científicos. Afinal, a tomografia, embora precise, envolve uma dose de radiação mais elevada do que as radiografias convencionais. Portanto, o ideal é aplicá-la quando: 

  • há risco de dano a estruturas nobres; 
  • o dente incluso apresenta relação complexa com outras estruturas; 
  • a imagem convencional não oferece clareza diagnóstica suficiente. 

Lembre-se do princípio ALARA — “As Low As Reasonably Achievable” — quando se trata de exposição à radiação. 

Dica clínica valiosa 

Sempre que possível, associe a imagem tomográfica a modelos digitais 3D. Essa estratégia, além de tornar o planejamento mais visual, permite simulações cirúrgicas, como relatado por Curtis et al., resultando em menos tempo extra-alveolar e maior preservação dos tecidos. 

Mais do que uma imagem, uma estratégia 

Incorporar a TCFC ao protocolo de diagnóstico e planejamento cirúrgico de dentes inclusos pode ser o diferencial entre um procedimento previsível e uma cirurgia repleta de desafios inesperados. 

Como ressaltaram os autores: “o uso da TCFC está cada vez mais associado à precisão diagnóstica, segurança cirúrgica e excelência nos resultados clínicos” (Lima et al., 2021). 

Dr. Maurício Barriviera
Prof. Dr. Maurício Barriviera – CRO DF 4839
Doutor em Ciências da Saúde – Radiologia.
Diretor Técnico/Proprietário do Grupo Fenelon – Diagnósticos Odontológicos por Imagem.
Como revisor científico da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, tem se destacado como atuante no campo de pesquisas odontológicas.
Foi presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica e Diagnóstico por Imagem – ABRO – na gestão 2020/2023.