Avaliação do padrão de fratura condilar por tomografia computadorizada
A fratura condilar representa uma das formas mais comuns de fraturas mandibulares e sua avaliação precisa é essencial para o planejamento terapêutico. Entre os diversos fatores que podem influenciar o padrão da fratura condilar, a presença e a posição dos terceiros molares inferiores surgem como variáveis anatômicas relevantes.
A tomografia computadorizada (TC), particularmente o modelo por feixe cônico (Cone Beam), tem se consolidado como exame de escolha na avaliação tridimensional de traumas maxilofaciais. Sua acurácia superior na detecção de fraturas, na caracterização morfológica e na visualização espacial das estruturas ósseas oferece subsídios importantes para a correlação entre aspectos anatômicos e padrões de fratura.
Avaliação das relações entre o padrão de fratura condilar e a posição dos terceiros molares inferiores
Um estudo publicado em 2023 no periódico Dental Traumatology [1] investigou, por meio de radiografias panorâmicas e tomografias computadorizadas, a relação entre os padrões de fratura condilar e as características dos terceiros molares inferiores, contribuindo para a compreensão diagnóstica e prognóstica dessas lesões.
O estudo teve como objetivo principal investigar a associação entre a presença, angulação, profundidade e relação dos terceiros molares inferiores com o padrão de fratura condilar, com base em dois métodos de imagem: a radiografia panorâmica e a tomografia computadorizada. Além disso, a classificação das fraturas condilares seguiu os critérios de Lindahl, categorizando as fraturas em alta, baixa ou subcondilar, conforme a localização do traçado.
Na pesquisa, foram avaliadas 188 fraturas mandibulares unilaterais em 167 pacientes, com foco na análise comparativa entre radiografia panorâmica e tomografia computadorizada.
Para a análise dos terceiros molares, foram aplicados os sistemas de classificação de Pell e Gregory (relação com a porção anterior do ramo mandibular e profundidade) e Winter (angulação em relação ao segundo molar). Os exames de imagem foram analisados retrospectivamente por dois radiologistas experientes, garantindo a reprodutibilidade dos dados. A tomografia computadorizada foi considerada o padrão-ouro para determinação da presença e localização da fratura.
Padrões de fratura e terceiros molares
A análise dos dados revelou que, entre os 167 pacientes avaliados, a presença de terceiros molares inferiores esteve significativamente associada a um maior risco de fratura condilar. Especificamente, os terceiros molares impactados do tipo horizontal e profundo (classe C de Pell e Gregory) estavam correlacionados com maior incidência de fraturas do côndilo.
A posição do terceiro molar inferior interfere na forma como as forças são distribuídas ao longo da mandíbula durante um trauma. A retenção óssea do dente, aliada à sua orientação desfavorável, pode comprometer a capacidade da região posterior da mandíbula de absorver o impacto, redirecionando a energia para a região condilar. Dessa forma, a presença do terceiro molar não apenas influencia o local da fratura, mas também pode afetar sua gravidade e desvio.
Outro dado relevante foi a distribuição dos tipos de fratura segundo a classificação de Lindahl. A maioria dos casos envolveu fraturas subcondilares, seguidas pelas fraturas do colo condilar. Fraturas intracapsulares foram menos frequentes, mas estavam mais associadas à ausência de terceiros molares. Esses achados sugerem que a existência de terceiros molares inferiores impactados pode redirecionar as forças de trauma para áreas extra-articulares da mandíbula.
Comparativo entre radiografia panorâmica e tomografia computadorizada
O estudo também comparou a eficiência diagnóstica da radiografia panorâmica com a tomografia computadorizada. A radiografia apresenta limitações significativas na identificação de fraturas condilares, principalmente intracapsulares, e não foi capaz de oferecer a mesma precisão na determinação da posição tridimensional dos terceiros molares.
A tomografia computadorizada demonstrou-se superior na visualização da morfologia condilar, na distinção entre fraturas simples e cominuíticas, e na avaliação da relação do fragmento fraturado com a cavidade glenoide. Isso confere à TC um papel fundamental não apenas na confirmação do diagnóstico, mas também no planejamento cirúrgico, quando necessário.
A acurácia da radiografia panorâmica, embora ainda presente como exame de triagem inicial, é limitada em casos complexos ou em situações em que a avaliação tridimensional se mostra indispensável. O uso da TC deve ser considerado diante de sintomas persistentes, limitação funcional, assimetrias ou fraturas suspeitas não visibilizadas adequadamente pela radiografia convencional.
Implicações clínicas e recomendações
Os achados deste estudo têm implicações clínicas importantes, sobretudo no planejamento preventivo e terapêutico em pacientes com terceiros molares impactados. A análise do risco de fratura condilar associada à presença e à posição dos terceiros molares pode influenciar na decisão pela extração profilática desses dentes em indivíduos com alto risco de trauma mandibular, como praticantes de esportes de contato ou pacientes com histórico de quedas recorrentes.
Do ponto de vista da imagem, a tomografia computadorizada reafirma seu papel central na abordagem de fraturas maxilofaciais. Sua indicação deve ser considerada não apenas para confirmação diagnóstica, mas também para o entendimento da etiologia da fratura, especialmente quando associada a fatores anatômicos como os terceiros molares. O uso racional da imagem tridimensional permite ao cirurgião-dentista planejar abordagens mais seguras, minimamente invasivas e com maior taxa de sucesso.
A relação entre padrões de fratura condilar e a posição dos terceiros molares inferiores, demonstrada por meio da tomografia computadorizada, reforça a importância do exame tridimensional na prática clínica. A presença de terceiros molares impactados, em posições profundas ou com inclinação horizontal, parece estar associada a um risco maior de fraturas condilares, com padrões específicos que podem influenciar o prognóstico e a conduta.
Para o cirurgião-dentista, compreender essas relações é essencial para uma avaliação abrangente do paciente traumatizado, e o uso da tomografia computadorizada se mostra uma ferramenta diagnóstica de alto valor agregado. Na Fenelon Diagnósticos Odontológicos por Imagem, os exames de tomografia computadorizada são realizados com equipamentos de alta precisão, conforme indicação clínica do cirurgião-dentista responsável, contribuindo com o planejamento odontológico especializado.
Quer aprofundar seus conhecimentos sobre o uso da tomografia nos traumas maxilofaciais? Leia também nosso artigo sobre as vantagens da TC Cone Beam na avaliação tridimensional da mandíbula.
Referências
[1] Zhao L, Long Y, Xu G, Long J. Assessment of relationships between condylar fracture pattern and mandibular third molar position by panoramic radiography and computed tomography: A retrospective comparative study. Dent Traumatol. 2023 Dec;39(6):575-585. doi: 10.1111/edt.12874